#101 Um cafezinho: “sério que você nunca assistiu esse filme antes?”
Algumas reflexões sobre nosso desejo de fazer parte, ansiedade pelo que ainda não vimos e processos de aprendizado
Olá! Como expliquei nas últimas edições, os cafezinhos agora são edições exclusivas para os apoiadores da newsletter. Se você está no plano gratuito, essa é uma prévia da edição completa. Enviarei essas edições com preview enquanto estamos nesse período de transição e se você quiser ler este e os próximos cafezinhos na íntegra, considere apoiar a Andanças. Custa apenas 10 reais por mês (dois cafezinhos!), você ajuda a newsletter a continuar a todo vapor e ainda apoia o trabalho de uma escritora/pesquisadora independente <3
E até o final de outubro, você também pode fazer a assinatura anual com um desconto de 20%:
Eu fui uma adolescente muito curiosa sobre as coisas novas que chegavam até mim, mas eu também tinha sempre uma certa dificuldade de lidar com o que eu ainda não sabia. O tempo passou e o que eu percebi é que a dificuldade de mostrar o que não sabemos continua na vida adulta com outras formas e alimentada por sentimentos um pouco diferentes daquele caos emocional juvenil. Admitir o que não sabemos não deixa de ser uma forma de demonstrar vulnerabilidade e, dependendo das conversas em que estamos, isso não é algo que queremos fazer.
É aí que entra a pergunta “sério que você nunca assistiu esse filme antes?” e o tom nem sempre construtivo que ela tem.
Acho que no cinema, assim como na música e na literatura - três artes que estão mais diretamente inseridas no nosso cotidiano -, se criou uma ideia de que quem sabe muito sobre aquele assunto é, no mínimo, alguém que conhece muito daquele assunto. E eu acredito que quem sabe muito sobre determinado tema tem realmente uma bagagem bastante ampla, mas acho que essa ideia de conhecer tem estado muito conectada com a quantidade: de filmes que você já viu, de artistas/músicas que você já ouviu, de livros que você já leu. O problema da quantidade é que nem sempre ela está atrelada à profundidade e a um processo de pensar e aprender sobre aquilo que foi visto.
Outro aspecto desse “conhecer” também tem a ver com os nomes. Saber citar nomes - de pessoas, de obras, de movimentos, de referências - acaba se tornando uma forma de “validar” aquele conhecimento. Nas situações da vida social em que nos encontramos (tanto pessoalmente quanto na internet), é por meio dessas citações que, muitas vezes, se mostra o que se sabe e se testa o que o outro sabe - direta ou indiretamente. Em meio a tentar definir o espaço que se ocupa, as conversas por aí ainda estão cheias de citações, de testes velados, de inseguranças, de vergonha de admitir o que a gente não sabe pelo medo de como seremos vistos e rotulados pelos outros.
Se olharmos especificamente para o cinema, acho que estamos em um momento muito particular nessa vida hiper conectada de 2024. A conversa tem ido muito além das pessoas que falavam especificamente sobre esse tema e isso é ótimo. É incrível que tanta gente tenha um interesse cada vez maior no cinema, mas acho que vale também a reflexão de como estamos alimentando e desenvolvendo esse interesse e que tipos de ansiedades isso está gerando. O que a gente anda achando que precisa ver, fazer e ser para fazer parte?