#105 Um cafezinho: os conselhos de escrita de Francis Ford Coppola
Minhas anotações da aula presencial com o diretor no último dia 31 em Curitiba
Olá! Os cafezinhos agora são edições exclusivas para os apoiadores da newsletter. Se você está no plano gratuito, essa é uma prévia da edição completa. Se você quiser ler este e os próximos cafezinhos na íntegra, considere apoiar a Andanças. Custa apenas 10 reais por mês (dois cafezinhos!), você ajuda a newsletter a continuar à todo vapor e ainda apoia o trabalho de uma escritora/pesquisadora independente <3
Eu sempre carrego comigo um caderninho pequeno, desses de bolso, onde faço anotações quando estou na rua. É nele que eu escrevo pensamentos aleatórios, notas de palestras, observações sobre filmes enquanto estou no cinema e, eventualmente, o esboço de alguma das nossas edições.
Jamais, em nenhum dos meus sonhos mais longínquos e fantasiosos, eu imaginei que algum dia, naquele caderninho surrado de capa vermelha, sem estar viajando, sem estar morando em nenhum outro lugar, eu escreveria o seguinte cabeçalho:
Aula Coppola, Guaíra 31/10/24
O diretor Francis Ford Coppola veio para o Brasil durante a estreia brasileira de seu novo filme Megalópolis, que encerrou a Mostra de Cinema de São Paulo, além de receber o prêmio Leon Cakoff no festival. Começou a correr a notícia de que ele viria para Curitiba no dia seguinte receber uma honraria do governo paranaense. Coppola veio à Curitiba em 2003 e passou um bom tempo na cidade, caminhando pelo centro, indo regularmente à restaurantes e fazendo amizades por aí (você pode ver várias fotos dessa andança aqui). É muito louco pensar que esse grande diretor passou semanas andando pelo centro da cidade vinte anos atrás. Naquela época, ele estava no processo de pesquisas para o que viria ser Megalópolis e, segundo ele mesmo, Curitiba e seu antigo prefeito e então governador do Paraná Jaime Lerner foram duas grandes influências para a criação do filme e do protagonista Cesar Catilina, interpretado por Adam Driver.
Naquela quarta-feira, dia anterior à visita, foi um alvoroço. Coppola não só viria mesmo, como também tinha na agenda uma aula para estudantes de cinema de uma universidade particular da cidade e estaria, supostamente, na sessão de estreia de Megalópolis no Cine Passeio, o meu cinema local. No fim das contas, a aula foi transferida para o Guaíra, um dos principais teatros da cidade, e aberta ao público mais amplo, que encheu o teatro. A sessão de estreia no cinema foi concorridíssima e eu não consegui os ingressos, mas estive na aula na quinta de manhã e essa foi uma daquelas oportunidades únicas na vida.
Coppola foi direto ao assunto: queria falar especificamente com os estudantes de cinema, responder suas perguntas e dar conselhos. Foi incrível poder ouvir alguém tão experiente e tão grande no cinema falar assim tão de perto, completamente aberto para compartilhar os conhecimentos acumulados em seus 85 anos de vida. E tudo isso aqui mesmo, na nossa cidade, presencialmente e pertíssimo de casa.
Se você é de Curitiba, ou se procurar notícias sobre o dia agitado de Coppola aqui, certamente vai encontrar muita coisa sobre a honraria do governo, muitas imagens do palco do Guaíra durante a aula, várias falas sobre como a cidade é uma referência para o filme, as fotos de Coppola visitando as estações tubo de ônibus (ele se atrasou para a aula porque quis parar no caminho e checá-las pessoalmente!), e a multidão de cinéfilos com e sem ingressos que fechou a Rua Riachuelo para aguardar a chegada do diretor na sessão do Cine Passeio.
Mas o que eu quero trazer aqui hoje são os conselhos que Coppola deu sobre escrita durante a aula. Ele se refere mais diretamente à escrita voltada para a realização de filmes, de roteiros, mas eu achei que as coisas que ele falou são também bem interessantes para quem escreve outros tipos de escrita. Eu sempre acho sensacional ouvir alguém que é tão imenso no que faz falando sobre o seu processo, o que aprendeu ao longo do tempo, as angústias que sente e como lidou/lida com elas.
Coppola começou a aula falando que acredita que existem duas coisas essenciais no cinema, os componentes mais importantes, sem as quais nada mais funciona: a escrita e a atuação. Ele não chegou a entrar muito no tema da atuação, mas focou bastante na escrita. Falou sobre como queria ser um escritor, mas achava tudo que escrevia péssimo e que esses foram os segredos que fizeram a escrita funcionar para ele.
Fiz um compilado de algumas das dicas que mais me chamaram a atenção e que eu guardei para mim para pensar no tipo de escrita que eu também faço. Vamos lá :)