#24 Andanças de férias: na estrada
Mulheres, liberdade e 4 filmes para você assistir neste começo de ano
A Andanças está de férias! Nesta semana, você está recebendo uma edição especial temática, com recomendações de filmes andantes para você aproveitar nesse período. Todos os filmes citados aqui estão na nossa lista e aparecerão nas edições-passeios tradicionais no futuro. Estaremos de volta na terceira semana de janeiro :)
Quando pensamos em nossa vida urbana, poucas coisas simbolizam tanto uma ideia de liberdade quanto as estradas. Nelas, deixamos a vida que nos envolvia para trás e vamos na direção de algo novo, desconhecido. Seguimos nosso coração, nosso instinto, nossa senso de sobrevivência, nosso passado ou nosso futuro. Ali, a tantos quilômetros por hora no meio desse mundo imenso, o trajeto é tudo que temos.
Apostamos no incerto - e a incerteza é um lugar de grande vulnerabilidade. Descobrir novos lugares também nos faz descobrir novas partes de nós mesmos, como se a estrada fosse uma espécie de romance de formação que vale para toda a vida adulta. Entretanto, ainda é preciso questionar a que pessoas essa possibilidade de liberdade é permitida e como. Em proporção, são poucos os filmes que mostram aventuras de mulheres rodando as estradas e essas ainda são histórias majoritariamente de mulheres brancas - e isso diz muito sobre a sociedade em que vivemos.
Há muitas perspectivas para descobrirmos neste ano e muito o que discutir sobre o ir e vir. Por enquanto, deixo nessa edição especial 4 filmes andantes com muita quilometragem rodada somente por mulheres para você assistir enquanto continuamos de férias :)
1. Thelma & Louise
“Me sinto acordada. Bem acordada. Não me lembro de me sentir tão acordada. Sabe como? Tudo parece diferente. Também se sente assim, como se tivesse algo pelo que viver?”
Thelma & Louise (1991, dirigido por Ridley Scott) é um dos clássicos filmes de estrada. Ele entrega tudo: é divertido, cheio de ação, tem laços de amizade que se fortalecem, autodescoberta, críticas ao patriarcado e reflexões sobre as (não) possibilidades das mulheres de ir e vir com segurança e tranquilidade. Thelma (Geena Davis) e Louise (Susan Saradon) fazem planos de uma viagem de final de semana longe das obrigações cotidianas, mas eles são destruídos quando uma tentativa de estupro acontece no caminho e elas acabam se tornando fugitivas da justiça. Em uma época em que os homens dominavam esse gênero, o filme quebra as regras e leva o Oscar de Melhor Roteiro Original em 1992 (escrito por uma mulher, Callie Khouri). Se você ainda não viu, não sabe o que está perdendo!
Disponível na Amazon Prime.
2. Nomadland
“Uma das coisas que eu mais amo nesta vida é que não há despedida final. Conheci centenas de pessoas aqui e nunca dei um adeus definitivo. Eu sempre só digo: ‘Vejo você na estrada’. E vejo. Seja em um mês, seja em um ano, ou daqui a muitos anos, sempre os revejo.”
Nomadland (2020, dirigido por Chlóe Zhao) conta a história daqueles que fizeram da estrada seu lar - por vontade ou por necessidade. Acompanhamos Fern (Frances McDormand), uma mulher na casa dos 60 anos que vive sozinha em um trailer e que busca se reencontrar depois de perder na crise toda a vida que havia construído até então. O filme mostra a liberdade da vida nômade na estrada e também as diversas dificuldades enfrentadas por aqueles que seguem esse caminho, além de inúmeras críticas ao sistema capitalista e ao acesso à moradia nos Estados Unidos. Esse é um filme lindo que venceu o Oscar de Melhor Filme em 2020. Para se emocionar, refletir sobre nossos modos de vida e perder o fôlego com as paisagens.
Disponível no Star+.
3. Unpregnant
“Preciso da sua ajuda e não tenho mais nenhum lugar para ir.”
Ser uma adolescente é algo difícil. Diversas questões rondam nossa cabeça em um momento em que ainda não sabemos bem como lidar com elas. A gravidez (e o medo constante dela), o aborto, a descoberta da sexualidade, as escolhas sobre o próprio corpo, as amizades, os relacionamentos, a incerteza do futuro, as relações atravessadas com a família e uma sociedade que exige demais das garotas e lhes dá muito pouco em troca quando elas precisam. Unpregnant (2020, dirigido por Rachel Lee Goldenberg) é um filme de formação que trata de todas essas questões com a seriedade que elas demandam, mas de uma forma muito leve e divertida, além de ser muito informativo. Acompanhamos Veronica (Haley Lu Richardson) e Bailey (Barbie Ferrera) em uma jornada para realizar um aborto em outro estado, encarando todo tipo de obstáculos, encontrando muitas ajudas inesperadas pelo caminho e fortalecendo sua amizade. É o tipo de comédia que eu gostaria de ter assistido na adolescência.
Disponível na HBO Max.
4. Ida
“E se você for lá e descobrir que não existe nenhum Deus? Deus está em todo lado, eu sei. Eu te levo lá. Vamos juntas.”
Ida (2013, dirigido por Paweł Pawlikowski) conta a história de duas mulheres de uma mesma família destruída pelos nazistas que se reencontram na Polônia nos anos 60. De um lado, Ida (Agata Trzebuchowska), uma jovem que passou a vida em um orfanato cristão sem conhecer nada sobre sua família e que está prestes a se tornar freira. Do outro, Wanda (Agata Kulesza), sua tia judia que perdeu sua fé e que carrega a dor e as marcas dos horrores que vivenciou durante a guerra. As duas pegam a estrada para retornar ao lugar onde os pais de Ida viviam, em uma tentativa de preencher as lacunas que ainda as assombram e curar as feridas que nunca cicatrizaram. É um filme lindo, com uma fotografia incrível e que também levou um Oscar - o de Melhor Filme Estrangeiro em 2015.
Infelizmente, não encontrei esse filme disponível em nenhum streaming nesse momento, mas deixo ele aqui mesmo assim para você guardar na sua lista. Quando achar ele disponível novamente, atualizo essa edição!
Se você já assistiu algum desses filmes ou os assistiu depois dessa edição, me conta nos comentários! Vou adorar saber o que você achou e continuar a conversa.
Na semana que vem, voltamos para nossos passeios. Te espero lá :)
E se você chegou na Andanças há pouco tempo, já tivemos duas edições com filmes andantes na estrada no ano passado:
Thelma e Louise é DEMAIS, tal qual Nomadland. Mas o que mais amei foi a tua forma de ver a estrada: "Apostamos no incerto - e a incerteza é um lugar de grande vulnerabilidade. Descobrir novos lugares também nos faz descobrir novas partes de nós mesmos, como se a estrada fosse uma espécie de romance de formação que vale para toda a vida adulta." - tão verdadeira! Louca para assistir os outros. Já na lista (e na torcida para que Ida apareça, por aí!)
Adorei!