Nessa semana, enviei a primeira versão do meu texto de qualificação. Venho escrevendo ele já há muitos meses, intercalando alguns períodos de mais e menos intensidade. Durante um processo de escrita mais longo assim, a gente passa um tempo enorme pensando, lendo, construindo as ideias, e é muito bom ver a pesquisa tomar uma forma. Ainda é só uma primeira versão, é claro. O texto vai voltar com as correções e aí voltamos para um mais um intensivo de escrita até que ele possa realmente ir para a banca e essa é só uma das partes do processo. Ainda vão existir muitas modificações até a defesa, mas a sensação, por agora, é de dever cumprido - e essa é uma sensação muito boa de se ter depois de dois anos e meio de doutorado.
Eu comecei a escrever essa edição na semana passada, quando ainda estava nos últimos dias antes do meu prazo final. É engraçado ler, agora, o tom que o texto estava tomando. O cansaço batendo forte, a escrita da newsletter nitidamente ali para procrastinar abrir o arquivo do Word minimizado no canto da tela. É nesse quase lá que a gente se perde. Já sabemos que não teremos tempo para algumas coisas maiores, mas não resta mais energia para os detalhes. Nesse caminho, vamos tentando achar outras coisas que nos ajudem a recuperar o ânimo e dar um gás para terminar aquelas últimas páginas (o que, no meu caso, funcionou: depois de esboçar esse texto e pensar na lista que eu faria para essa edição, já me animei e consegui voltar para o Word haha).
Quando falta inspiração e existe algum tempo disponível, eu gosto sempre de assistir filmes em que as pessoas estejam, de alguma forma, fazendo algo parecido com o que eu preciso/quero fazer. Então, se você também está nesse percurso de escrita, acadêmica ou não, deixo aqui uma listinha de 4 filmes recentes com pessoas que estavam mergulhadas não só em tirar as palavras da cabeça e colocar no papel, mas também com um processo de aprendizado em relação à escrita. E cada uma em um tipo diferente: a crítica literária e o jornalismo, as histórias em quadrinhos, uma tese de doutorado e um romance.
Talvez ver as reviravoltas, as horas de trabalho árduo, o cansaço, as vitórias, o querer desistir, a alegria em fazer o que mais ama, as expectativas atendidas e as frustradas (às vezes tudo ao mesmo tempo) de outra pessoa te ajude a dar um gás no que você precisa fazer por aí. E, mesmo que você não esteja envolvido na escrita ou em nenhum outro tipo de atividade criativa intensa nesse momento, esses também são ótimos filmes para curtir uma história gostosa em uma pausa de descanso que a gente tanto merece.
1. Ilusões perdidas
Em uma adaptação do livro de mesmo nome de Honoré de Balzac de 1837, Ilusões Perdidas (Illusions perdues, 2021, dirigido por Xavier Giannoli) conta a história de Lucien de Rubempré (Benjamin Voisin), um poeta pobre do interior que começa a se envolver com sua mecenas, a nobre e casada Louise de Bargeton (Cécile de France). Com o caso vindo a tona, Cécile vai a Paris para fugir dos burburinhos e Lucien a segue para a cidade grande. Mas esse é um romance de formação e as coisas não saem muito como o esperado nessa Paris do início do século XIX para o jovem inocente e idealista Lucien. Depois de ser humilhado pela elite parisiense, ele vai acabar adentrando no campo do jornalismo e da crítica literária, vendo de perto e também criando todos os esquemas e armações do mundo artístico e cultural de então. Ainda não li o livro, mas sai do cinema morrendo de vontade de lê-lo.
Disponível para alugar no Prime Video, Apple TV e no Youtube.
2. Tove
Tove (2020, dirigido por Zaida Bergroth) é um filme biográfico da artista Tove Jansson (interpretada por Alma Pöysti), criadora do universo dos Moomins, personagens de uma série de histórias infantis e tirinhas de jornal. Tove é uma pintora de Helsinki, na Finlândia, que já vem de uma família de artistas - seu pai é um pintor renomado na cidade - e que investe em um ateliê quando a segunda guerra termina. Mas as coisas não parecem andar da mesma forma para ela e, precisando ganhar dinheiro, Tove começa a fazer tirinhas para um jornal. Com a frustração de não conseguir ser a pintora bem sucedida que seu pai gostaria e explorando outros meios de criar para o trabalho, Tove começa a imaginar e desenhar os personagens dos Moomins e a escrever suas histórias. No meio do caminho ela conhece Vivica (Krista Kosonen), uma diretora teatral com quem tem uma relação amorosa conturbada e que a incentiva a continuar criando. Tanto o filme quanto a própria história de Tove são lindos. Os Moomins ainda fariam um sucesso imenso no mundo todo, sendo adaptados para o teatro, séries de TV, filmes e dois parques temáticos (Fonte). Ah, e se você também gosta de acompanhar a Fran Meneses, ela volta e meia fala sobre os Moomins no seu canal do youtube.
Disponível para alugar na Apple TV e no Youtube.
3. Summerland (Onde fica o paraíso)
“As pessoas gostam de ter algo em que acreditar. É o que todo mundo quer. Magia. As histórias têm que vir de algum lugar.”
Em Onde fica o paraíso (Summerland, 2020, dirigido por Jessica Swale), vamos à Inglaterra durante a 2ª Guerra Mundial e acompanhamos Alice (Gemma Arterton), uma mulher que vive em uma cidadezinha perto das falésias, onde escreve sua tese de doutorado sobre mitologia e folclore. Solitária e com cara de poucos amigos, as crianças da vizinhança pensam que ela é uma bruxa e está sempre resmungando mau humorada para que todos a deixem em paz porque ela tem uma tese para fazer (risos). Mas a sua rotina meticulosa vira de cabeça para baixo quando ela se vê obrigada a receber uma das crianças envidas de Londres para se protegerem no interior do país. A presença de Frank (Lucas Bond) revira o seu passado, quando Alice vivia com sua companheira Vera (Gugu Mbatha-Rax) e faz seu coração, fechado há tanto tempo, se abrir de novo em uma relação de amizade e cuidado com o menino - além de muita andança dos dois pela região para as suas pesquisas. O filme é lindo (chorei de novo assistindo o trailer) e a casa de Alice é um cenário dos sonhos para escrever (você pode ver aqui algumas fotos da casa e de outros cenários do filme feitos pela designer de produção Christina Moore).
Disponível para alugar no Prime Video, Apple TV e Youtube.
4. Meu ano em Nova York
“Éramos centenas, trabalhando em agências literárias ou editoras. Nunca desmentindo o fato de que queríamos ser escritoras.”
Meu ano em Nova York (My Salinger year, 2020, dirigido por Philippe Falardeau) conta a história de Joanna (Margaret Qualley), uma jovem aspirante a escritora que decidiu se instalar na cidade de Nova York na década de 90. Em busca de seu primeiro emprego, ela segue animada para trabalhar em uma das mais antigas agências literárias da cidade, mas logo vê que as coisas não vão ser tão empolgantes quanto pensava. Sua chefe, a experiente e durona Margaret (Sigourney Weaver), tem uma visão conservadora sobre a forma de fazer as coisas e detesta assistentes que querem ser escritores. Lá, Joanna descobre que a agência representa o famoso e recluso J. D. Salinger, autor de O apanhador no campo de centeio e que dezenas das cartas que chegam para ele todos os dias são todas jogadas fora. Comovida com as cartas e um pouco insatisfeita com o trabalho, Joanna começa a responder escondido os fãs do escritor. Ela logo se vê em um malabarismo entre o trabalho, as respostas das cartas, as relações caóticas e o próprio desejo de continuar escrevendo e mantendo seu sonho. O filme é baseado no livro biográfico de mesmo nome de Joanna Rakoff e é mais uma história de formação muito boa, além de ser ótima para inspirar a escrita.
Disponível para assistir na Netflix.
Se você já assistiu algum desses filmes ou os assistiu depois dessa edição, me conta nos comentários! Vou adorar saber o que você achou e continuar a conversa.
No mais, até o próximo passeio :)
E se você chegou na Andanças há pouco tempo, já tivemos duas edições com filmes andantes de escrita no ano passado, um com a escrita de poemas e outro com a escrita de um roteiro de cinema:
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Já quero ver todos!
E viiiiiva esse passo tão importante! A quali do doc, pra mim, é a verdadeira defesa, sabe? Etapa super especial! Vai com tudo!
Parabéns pela quali :)