
Eu normalmente tenho um pé atrás quando são feitos remakes ou continuações de filmes que foram muito populares no passado, especialmente aqueles dos anos 80 e 90, quando a nossa memória deles ainda é relativamente fresca. Acho que eles podem dar muito certo - e até se diferenciarem e ultrapassarem o material original - ou dar muito errado e ser só um fogo de palha que nem consegue bater na tecla da nostalgia direito. Mas quando eu vi o trailer de Twisters (2024, dirigido por Lee Isaac Chung) algum tempo atrás, achei que o filme podia ter um certo potencial de, pelo menos, não cair na segunda categoria.
De cara ele já tem muitos pontos a seu favor. Na direção temos Lee Isaac Chung, que também dirigiu Minari (2020), um filme muito diferente deste, mas que também se aventura pelos campos abertos do interior dos Estados Unidos, onde o diretor cresceu. Nossa dupla de protagonistas é também bem conhecida: Daisy Edgar-Jones, que é incrível em Pessoas Normais, vem aqui interpretar um papel com muito mais ação do que em seus últimos trabalhos; e Glen Powell está em mais um daqueles papéis cheios de carisma que parecem cair como uma luva nele - é difícil imaginar qualquer outra pessoa interpretando esse personagem. O elenco cheio de atores e atrizes jovens conhecidos de filmes recentes (e alguns outros já bem experientes) também chama a atenção. Temos ainda Steven Spielberg como produtor executivo.
Na trama, Kate (Daisy Edgar-Jones) é uma pesquisadora que tem uma sensibilidade bem aguçada para perceber mudanças no clima. Ela está no Oklahoma com sua equipe, composta por amigos e seu namorado, para fazer um teste do projeto do qual eles fazem parte. O objetivo é soltar no tornado uma substância que reage quimicamente e o faz perder sua força, quase como que “dissolver” a tempestade mais rápido do que ela acabaria normalmente. Se der certo, eles poderão lidar com os tornados antes que eles atinjam as cidades e causem os danos imensos que essa força poderosa da natureza é capaz de fazer. Só que para isso, eles precisam chegar muito perto do tornado e “caçá-lo”, algo que eles parecem fazer com frequência e gostar muito da adrenalina de tudo isso. Mas dessa vez, as coisas saem do controle.
Cinco anos depois, Kate deixou para trás totalmente a vida que tinha antes e trabalha em Nova York em um trabalho seguro, estável e previsível. O passado volta para remexê-la quando Javi (Anthony Ramos), um dos seus antigos amigos do projeto, a convida para retomar a caça aos tornados e Kate terá que lidar com os traumas do seu passado para voltar a campo.
O Oklahoma é um estado do interior dos Estados Unidos que tem uma alta incidência de tornados, e como alguém que cresceu ali, Kate tem o sonho de conseguir “domar” as tempestades e evitar o máximo possível o rastro de destruição que elas deixam. Lá, percebe que caçar tornados é agora uma atividade bastante popular graças à internet e que uma das figuras mais notáveis disso é o youtuber Tyler Owens (Glen Powell), que junto com uma equipe bem peculiar, faz um estardalhaço por onde passa, gravando vídeos das tempestades e realizando “desafios” enviados pelos seguidores.
Mas as aparências enganam muito e as camadas que vão sendo retiradas aos poucos enriquecem a interação entre os personagens dessa história e fazem com que a gente se envolva emocionalmente na amizade que vai se formando entre eles. É claro que teria romance aqui também e a química entre Powell e Jones é excelente (ou, como eu li em algum comentário esses dias: com quem é que Glen Powell não tem química, não é mesmo?). Mas o roteiro consegue dosar o romance na medida certa, com Tyler complementando a jornada de Kate sem retirar o protagonismo que é dela.
Acho que a única coisa que me incomodou um pouco no início do filme foi a maneira como eles escolheram passar para a audiência as informações mais técnicas do mecanismo de funcionamento dos tornados e dos equipamentos utilizados por eles. Normalmente é Kate quem nos dá essas informações e as falas soam um pouco artificiais, propositalmente colocadas ali para explicar de forma esmiuçada o que está acontecendo. Eu entendo o objetivo, mas ainda assim acho que daria para passar essas informações iniciais de um forma um pouco mais natural, como vai acontecendo com o passar do filme. Fora isso, não tenho do que reclamar.
E claro, outro protagonista dessa história são os próprios tornados e as cenas das tempestades são assustadoras, ainda mais em uma tela de IMAX. Os efeitos especiais dão conta do recado e formam para gente imagens lindas e aterrorizantes que fazem a gente ficar vidrado no que está acontecendo e sentir tanto a adrenalina quanto o pavor que os personagens estão sentido, assim como o senso de sobrevivência que eles tem com eles mesmos e com as pessoas ao redor que eles buscam salvar. A gente torce, espera, sofre junto. As paisagens dos campos e das pequenas cidades do interior são lindamente mostradas, com pequenos detalhes que ajudam a identificar o tamanho da força dos ventos.
Achei que Twisters superou em muito as expectativas que eu tinha e trouxe aquela adrenalina que há tempos eu não sentia com um filme de ação. Em muitos momentos ele me lembrou Top Gun: Maverick e não só por Glen Powell, mas por toda a atmosfera de perigo e ousadia nesse contexto que é também tão estadunidense. Ele traz alguns clichês e a gente já espera algumas coisas, mas nada que atrapalhe a experiência como um todo. O elenco de suporte é ótimo (destaque para a maravilhosa Maura Tierney, que aparece mais para frente no filme), Glen Powell está mais uma vez incrível e Daisy Edgar-Jones ainda vai brilhar muito por aí.
No fim das contas, Twisters acaba sendo um dos filmes da primeira categoria mencionada no início desse texto: aqueles que se diferenciam do material original e conseguem se sustentar sozinhos sem precisar retornar o tempo todo ao que já foi um sucesso antes. É um daqueles filmes garantidos que com certeza renderão uma ótima sessão cinema nessas leva de filmes de férias.
Twisters estreia nos cinemas brasileiros nesta próxima quinta-feira, dia 11 de julho.
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