A Um cafezinho é a nova seção da Andanças! Imagine-a como uma pausa rápida no meio dos nossos passeios para tomar um cafezinho em algum lugar do caminho, onde a gente possa conversar também sobre uma variedade de tópicos andantes que vão além dos nossos passeios convencionais - cinema como um todo, andanças pessoais, outros sentimentos, aleatoriedades e dicas. A Um cafezinho será normalmente uma edição mais curta e é um respiro (para mim e para vocês) entre os nossas edições mais complexas com os filmes. A ideia é que ela aconteça intercalada entre uma edição tradicional e outra, mantendo o nosso fluxo andante, mas com mais pausas. Se você está aqui pelos textos dos filmes, é só pular estes e-mails e esperar pelo próximo passeio na semana seguinte. Pode seguir que a gente já te alcança :)
Faz algumas semanas que venho procurado um filme andante com o qual eu pudesse falar sobre cansaço. Cheguei na memória que eu tinha de Comer Rezar Amar, mas depois de alguns minutos assistindo já deu para perceber que a motivação de Liz (Julia Roberts) não era bem cansaço ou burnout, como eu achava que era. Havia sim um sentimento de desconexão que era o cerne do que eu queria elaborar mais em um texto, mas no filme não era bem só isso. Por mais que eu me identificasse com algumas das coisas que ela fala (principalmente sobre relacionamentos), não conseguia ir muito além disso. Algumas coisas me incomodaram, fiquei com um pouco da sensação dos estadunidenses no exterior de Encontros e desencontros. O filme não era bem o que eu lembrava. Parei depois de 45 minutos e descartei a ideia.
Isso me fez voltar para outra ideia, a dessa pausa para um cafézinho entre uma semana e outra. Enquanto eu me preparo para o amigo secreto de newsletters desse ano, isso também me voltou à mente. Por mais que a gente possa fazer inúmeras relações e abordar diversos assuntos, muitos filmes andantes giram em torno de temas parecidos - formação, relacionamentos, estar perdido no mundo, se reencontrar depois uma certa idade, problemas sociais da cidade.
Mas e quando a gente não está perdido, mas só cansado?
Já faz um tempo que eu quero criar uma seção na Andanças que me permita ampliar o leque de assuntos trazidos aqui, de forma a possibilitar que a gente entre também em outras conversas. Há várias coisas que acontecem no meu cotidiano, nesse vai-pra-lá-vai-pra-cá da andanças de todos os dias, que eu penso: “daria para falar disso em uma edição!”. Mas aí não encontro um filme que encaixe, os textos seguem por outros caminhos, as ideias se acumulam em páginas de caderno que não são relidas e aquele insight se perde. Eu queria arrumar o itinerário para abrir espaço para essas pequenas aleatoriedades de todo dia também.
Não entenda errado: eu adoro falar sobre os filmes, a relação entre os personagens, a cidade onde tudo se passa. Mas esse é um trabalho mais longo, demorado, que exige pesquisas maiores e que toma não só muitas horas da semana quanto muita energia mental. Minha vida estava andando um pouco mais devagar no ano passado e essas edições mais elaboradas fluíam em um ritmo mais constante. Nesse ano, eu não estou dando conta.
E isso é bom, de certa forma. Quer dizer que a vida está saindo de um estado mais inerte e andando a toda velocidade na direção de coisas boas pelas quais eu ansiava e também gosto muito de fazer. Mas já é quase dezembro e eu estou bugada. Tela azul. Nesse processo de guardar energia e realocá-la para outras atividades mais urgentes, meu cérebro tem estado cansado demais para conseguir fazer as associações frescas que em outros momentos ele conseguiu fazer ou para escrever com mais energia como no início do ano. É por isso que as edições tem sido mais inconstantes nesses últimos meses.
Com a licença poética do exagero, me sinto um pouco como a Julia Roberts esmagada no meio da multidão no café tentando sozinha pedir um cappuccino. Cheguei à conclusão de que talvez eu não precisasse de um filme falando sobre cansaço, mas sim mudar um pouco o formato das coisas. Insistir no que não estava dando certo provavelmente não é a melhor maneira para lidar com o meu cansaço já existente. E de cansaço, convenhamos, a gente já está cheio. Talvez, olhando ao redor, dê para encontrar outra forma de fazer as coisas de uma maneira melhor e mais tranquila - sem grandes crises e ansiedades, sem sumiços.
Estou animada com essa nova maneira de caminharmos por aqui entre um passeio e outro. Afinal, a gente muda, a vida muda, e tentar manter as coisas como se nada tivesse mudado não ajuda em nada. Algumas pausas em meio a tanta andança talvez seja o que precisamos para refrescar a mente e seguir em frente melhor. E pode ter certeza: cada passeio que fazemos rende muuuita conversa paralela regada a um bom cafezinho.
Seguimos juntos :)
Me digam o que acham dessa nova seção e formato de textos no comentários! Nosso cafezinho, assim como os passeios, é para ser uma conversa direta e você também pode sugerir temas que gostariam de ver mais por aqui. Pode ser sobre cinema, cidade, andanças, mas não só! Me diz nos comentários ou respondendo diretamente esse e-mail :)
Algumas dicas antes de ir
- “Vou pra longe que é pra enfiar umas aventuras esquisitas dentro dos buracos, sentir que estou completa e colorida por um mês, assistir o mundo em volta sem ter que dar sentido a nada. Depois volto pra casa e observo as cores desaparecendo enquanto planejo a próxima viagem.” edição linda do
dessa semana <3- “A gente nunca sabe para onde o texto vai nos levar. Podemos planejar escrever a respeito de um tema de que gostamos, mas, na hora da escrita, somos levados a lugares surpreendentes.” A
traduziu muito bem o sentimento que vem muitas vezes no processo de escrita que acontece aqui nessa edição da .- As várias faces da crise, texto da
que tocou no cerne do meu cansaço atual e remexeu em outro assunto que tem estado na minha mente nos últimos tempos: presença.- A edição dessa semana da
(em inglês) traz algumas respostas de como lapidar sua biblioteca pessoal quando necessário e uma das respostas (de um bibliotecário chamado Dan) é ótima!- A série The Gilded Age fala sobre o surgimento dos “novos ricos” na cidade de Nova York no fim do século XIX. Essas são famílias que fizeram sua fortuna a partir do nada com a industrialização e as estradas de ferro em contraposição com os “velhos ricos”, descendentes dos primeiros imigrantes da cidade, que tem sua fortuna de heranças acumuladas por gerações. A série é do mesmo criador de Downton Abbey e faz várias referências à história real daquela sociedade e da cidade, além de mostrar como as mudanças rápidas daquele tempo influenciavam a vida de todo mundo. É ótima! Voltou para a segunda temporada neste mês, na HBO Max.
- Quando eu estou em um estado de maior cansaço, prefiro assistir mais séries do que filmes. Nesses últimos dias, terminei Sex Education, vi The Crown, Beckham, o novo episódio especial de natal de Doctor Who e sigo com A maravilhosa Sra. Maisel. Tudo excelente!
- Nos cinemas, assisti Afire, novo filme do diretor alemão Christian Petzold, que eu gosto bastante. O filme é ótimo e me fez pensar muitas coisas sobre como a gente às vezes acaba andando em círculos em volta do próprio umbigo dentro da vida acadêmica/intelectual. Se estiver passando em algum cinema da sua cidade, vale muito a assistida! Outro filme muito bom dele, Barbara, está disponível para assistir de graça no Sesc Digital.
- Lançamentos da semana que estou ansiosa para ver: May December (na Netflix dia 1 de dezembro), Folhas de Outono (dia 30 de novembro nos cinemas) e Pedágio (também dia 30 nos cinemas).
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Ai, adorei <3
Adorei o formato ☕
O que achou de sex education?