#86 Um cafezinho: os filmes que eu mais gostei de assistir em abril, maio e junho
Alguns favoritos e uma reflexão sobre o tempo das coisas
2024 começou com tudo nos cinemas e no comecinho de abril fiz uma edição falando sobre os meus filmes favoritos do primeiro trimestre do ano. Com o ritmo que o ano andava, apenas uma edição em dezembro falando sobre o que mais gostei de assistir não daria conta de tudo e também não haveria espaço para falar um pouquinho mais sobre cada um deles. Então, a edição de hoje é então uma continuidade daquela, cobrindo, dessa vez, o segundo trimestre do ano.
Porém, diferente daquele período, esses três meses foram agitadíssimos em todas as esferas da vida e o experimento de ir com uma frequência semanal ao cinema foi por água abaixo. Mesmo a tentativa de fazer do ato de assistir filmes um ritual em casa também se perdeu no meio das tarefas que se acumularam e do cansaço que prevaleceu.
Acho importante falar sobre como essas movimentações nem sempre dão certo no meio da vida corrida. Conforme eu falei nos dois primeiros cafezinhos do ano (Tudo aquilo que não assistimos em 2023 e O tempo de digestão das coisas), tem muita coisa acontecendo, muitos filmes e séries ótimos sendo lançados o tempo todo e às vezes é muito difícil acompanhar, mesmo quando a gente gosta e quer fazer isso. A vida demanda o nosso tempo, nossa atenção e nossa energia para mil outras coisas e às vezes simplesmente não dá - e está tudo bem. O que precisamos é dar o nosso próprio tempo de digestão das coisas para conseguir realmente aproveitar, se divertir e relaxar. Volta e meia aparecem algumas correrias movimentadas, mas a gente também precisa descansar. No geral, seguimos por aqui andando um passo de cada vez.
Eu não vou mencionar nessa edição os filmes do Olhar de Cinema, porque já falei sobre eles em uma edição bem recheada algumas semanas atrás. Dos lançamentos que assisti, um dos filmes que mais gostei foi Rivais (Challengers, 2024, dirigido por Luca Guadagnino). Achei o ritmo do filme completamente diferente do que eu já vi, com a passagem entre o passado e o presente como uma bola de tênis vai de um lado e para o outro. A trilha sonora faz com que a gente fique pregado na tela o tempo todo e a química entre Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor é perfeita. Eu já esperava que esse seria um filme bom, mas ele me surpreendeu completamente e excedeu em muito as minhas expectativas. Voltei para assistir ele no cinema uma segunda vez e a experiência continuou incrível. É um dos meus favoritos do ano, com certeza.
Outro filme que foi lançado na mesma semana (que aliás também tem Josh O’Connor como protagonista) e que eu gostei muito de assistir foi La Chimera (2023, dirigido por Alice Rohrwacher). É um filme lindo, delicado, emocionante e foi muito legal poder ouvir a atriz Carol Duarte falando um pouco mais sobre os bastidores na exibição de estreia no Cine Passeio aqui em Curitiba. Já falei um pouco mais sobre ele na edição #77.
Com exceção do festival, não assisti tantos filmes nesses três meses e a maioria do que eu assisti foi em casa. Fucei as minhas listas pelos streamings, que geralmente estão cheias daqueles filmes que já não são mais tão novos, mas que também não são antigos e que por alguma razão acabaram ficando para trás nesses anos todos. Nessa retomada, assisti dois filmes que gostei muito.
Um deles é The Royal Tenenbaums (2001) um dos filmes mais populares do diretor Wes Anderson que eu ainda não havia assistido. O diretor tem um estilo bem específico e está tudo aqui: os cenários peculiares, os personagens bem caricatos com seu estilo de viver muito bem marcado, os atores de sempre e toda a estranheza de cada um se juntando com um carisma que faz a gente gostar deles apesar de tudo. The Royal Tenenbaums conta a história de uma família com três filhos gênios, cada um em algo diferente. Mas a relação com o pai é um pouquinho complicada e quando o casal se divorcia a coisa piora ainda mais. Junto com a genialidade de cada um, se misturam vários traumas e sentimentos confusos que vão todos eclodir quando a família (e seus agregados) se vê toda sob o mesmo teto novamente. Disponível na Disney+.
O outro filme foi Quiz Lady (2023, dirigido por Jessica Yu), que coincidentemente tem algumas similaridades com The Royal Tenenbaums. Nele, Anne (Awkwafina) é uma jovem muito tímida que na infância encontrou refúgio de todo o caos de sua família em um programa de TV de perguntas e respostas. Ela assistiu o programa todas as noites desde então, fazendo daquilo um ritual de auto-cuidado no sofá de sua casa junto com seu cachorro. Depois de tantos anos de experiência, ela é um gênio do jogo. Um dia sua mãe, que mora em uma casa de repouso, foge e sua irmã mais velha Jenny (Sandra Oh) volta para a cidade. Mas Jenny é o oposto de Anne e a mãe delas também é um pouquinho complicada. Na tentativa de juntar o dinheiro para resolver as tretas que a mãe deixou para trás, Jenny convence Anne a participar do programa e as duas seguem em uma andança divertidíssima resolvendo seus problemas e traumas familiares. Eu adoro a Sandra Oh e ela está maravilhosa aqui. É um filme ótimo para quando a gente só quer relaxar e ver uma comédia gostosa. Disponível também no Disney+.
De tempos em tempos, eu também volto para assistir alguns filmes clássicos que nunca chegaram até mim antes. Assisti em abril O que terá acontecido a Baby Jane? (What ever happened to Baby Jane?, 1962, dirigido por Robert Aldrich), que traz as incríveis Bette Davis e Joan Crawford como protagonistas. As duas atrizes eram rivais lendárias (e esse artigo mostra um resumo de toda a história) nas suas carreiras na época de ouro de Hollywood e nos anos 1960, quando ambas estavam na faixa dos 50 anos, já eram consideradas velhas demais para o cinema. O filme é então um retorno triunfante das duas às telas e aqui elas interpretam duas irmãs que foram atrizes: uma delas, Baby Jane (Davis), foi uma estrela mirim que não conseguiu desbancar a carreira quando adulta e a outra (Crawford) foi uma estrela de Hollywood depois que cresceu. As duas irmãs tinham uma competição notória e tudo fica bagunçado quando um acidente de carro suspeito acontece: a irmã famosa perde a movimentação das pernas e precisa ficar em uma cadeira de rodas sob os cuidados de Baby Jane. O filme é um show de atuação, cheio de reviravoltas e farpas entre as irmãs, maravilhoso. Disponível na Max.
Quando as coisas estão muito agitadas, às vezes eu procuro assistir alguns curtas. Em um desses dias em abril, eu fucei uma lista e acabei encontrando vários curtas ótimos disponíveis no Youtube, sendo dois deles os meus favoritos desses meses (ambos apenas com legendas em inglês). Blue Diary (1997, dirigido por Jenni Olson) vai nos mostrando imagens das ruas de San Francisco, na California, enquanto a voz de uma mulher lésbica vai nos contando sobre a sua experiência com uma mulher hétero. É lindo, cheio de emoções confusas e as cenas da cidade dão um tom ainda mais melancólico à história. Já Possibly in Michigan (1983, dirigido por Cecelia Condit) é uma loucura. Na sinopse, ele é caracterizado como sendo uma história de horror musical e é um curta bastante experimental, com duas amigas que estão passeando em um shopping até perceberem que estão sendo seguidas por um homem. Tudo é contado através de uma música, quase como se fosse um videoclipe. O homem as segue até em casa e lá os papéis se invertem. É definitivamente uma experiência, mas extremamente crítico com relação às violências sofridas pelas mulheres por simplesmente estarem vivendo na rua.
Nesses momentos de vida corrida, acho também que eu acabo me voltando mais para as séries do que para os filmes. No fim das contas, dois episódios tem quase a mesma duração de um longa, mas não sei, tem algo sobre a história seriada que faz ela parecer mais curta e menos definitiva - e às vezes a gente só quer sentir que está de passagem por algo. Assisti neste mês duas séries limitadas que gostei muito: Shōgun e Um dia. Nessa última semana, ainda meio de ressaca de toda a movimentação cinematográfica do festival e de todo o cansaço com o trabalho intenso de junho, comecei a reassistir Sex and the City. É isso: tem algo sobre séries clássicas e queridas que é difícil de explicar. Elas tem um potencial de relaxamento e regeneração imenso e tem sido muito interessante assistir de novo - quem sabe vem ai uma nova edição sobre a série?
E claro, também estou agora religiosamente todo domingo assistindo A casa do dragão e desviando dos spoilers da próxima temporada de The Bear.
Por hoje é só! Nossa próxima edição de favoritos vem no comecinho de setembro.
Enquanto isso, até o próximo passeio :)
News andantes: críticas de filmes variados!
Julho é o mês de aniversário da Andanças (já fazem 2 anos!) e dessa vez temos uma novidade super legal por aqui. Com uma participação maior no mundo do cinema acontecendo aqui do lado de fora, agora a gente vai ter uma seção na newsletter exclusiva para textos/resenhas/críticas de filmes que estão sendo lançados nos cinemas!
Como vai funcionar: esses serão textos mais focados em uma opinião sobre o filme e você poderá acessá-los na aba “Críticas de filmes” na página inicial da Andanças. Como esses textos tem um calendário e frequência próprios e nem todos os filmes serão andantes, esses textos não serão enviados por e-mail (a não ser em casos em que eles sejam parte das nossas edições tradicionais de Andanças ou Cafezinhos). Eles poderão ser acessados nessa aba e serão postados ali como em uma estrutura de blog convencional.
Mas sempre que tiver um texto novo por lá eu deixarei o link nas nossas edições de sempre, nas quartas, e também avisarei no Instagram para que você acesse e leia conforme o seu interesse no filme. O primeiro texto já vem na semana que vem :)
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Nossa, adorei as recomendações. La Chimera e Rivais estão curiosamente em dobradinha no cinema universitário perto de casa, agora estou mais animada pra conferir os dois.
Ontem a Gaia falou da tua newsletter num evento na Livraria Ponta de Lança. Fiquei orgulhosa de vcs duas <3